Justiça. Igualdade.
Justiça. Igualdade. Olho para os miúdos, oiço-os falar, oiço-os discutir, e acho que percebo um pouco melhor do que se está a passar. Ela tem um gelado. Também quero! Porque não posso ter? O interessante é que nem sempres lhes apetece. Mas querem na mesma. O que é que querem, então? Querem acesso. Querem o direito a ter um gelado, mesmo que não lhes apeteça (ou que não lhes apeteça particularmente). Querem ser tratados por igual. Não querem todos as mesmas coisas ao mesmo tempo (muito embora continuem a ser muito sensíveis à sugestão), mas querem sentir que há justiça. E justiça significa igualdade no acesso. Tudo isto se passa sem qualquer ensinamento, doutrina ou conversa sobre o assunto. A ideia de privilégio deve-lhes ser completamente estranha, totalmente contraintuitiva. A ideia de que poderá haver algum miúdo que por qualquer direito divino tem acesso aos gelados e eles não. A questão pertinente será, talvez, como é que se parte de uma noção tão primária, intuitiva e cristalina de justiça, para uma sociedade tão deturpada, enviesada e assente em noções de privilégio. O que é ainda mais interessante é que as mesmas pessoas que mais cultivam a separação do privilégio nas suas vidas, já foram crianças logo já souberam intuitivamente o que é justiça, o que é igualdade no acesso. Acesso aos recursos da terra e da sociedade. No fundo é isso. E o poder que isso confere. Deixo ao critério dos leitores a relação entre o escrito acima e o conceito de rendimento básico incondicional. É chegado o momento de deixarmos de viver tão embrenhados no mundo dos adultos, para começarmos a ver o mundo mais como as crianças. Justiça. Igualdade.
André Coelho
Engenheiro / engineer: Ecoperfil, Sistemas Urbanos Sustentáveis Lda.
Músico / musician: Contaminado, MPex
Ativista / activist: RBI Portugal (+ blog RBI), Architects and Engineers for 9/11 Truth, Basic Income News